COMENTÁRIO
Trata-se da ficcionalização de um tópico muito actual, uma história que, com facilidade, poderá espelhar o mundo em que vivemos: o primeiro namoro de uma adolescente, a sexualidade, a angústia de uns estranhos enjoos matinais e a dificuldade de se fazer entender. É esse «mal» que a Cabrerinha do conto tradicional tenta dizer que tem dentro de si, que a autora faz viajar até ao presente, construíndo uma narrativa na qual se sugere muito mais do que aquilo que se diz, uma história que reflecte muitos dos hábitos – observados com invulgar perspicácia – da sociedade contemporânea, um texto que envolve profundamente o leitor de qualquer idade. A acrescentar, como factores de captação da atenção do leitor, o carácter verosímil das personagens, os diálogos vivos, as oportunas analepses, a fazer intencionalmente esperar o leitor pelo desfiar da história, a actualidade da delicada temática recriada e, ainda, o hábil humor, com que, aliás, Ana Saldanha condimenta, habitualmente, os seus textos. | Sara Reis da Silva |