COMENTÁRIO
Este livro é mais um pedaço da constelação multimédia que Marina Palácio vem construindo e que foi já exposição, performance, vídeo, peça de teatro, objectos vários, fotografias, história contada e que está em vias de ser filme de animação. Mas o puzzle é multimédia também no apelo que faz à participação do leitor, dos seus olhos e mãos. O livro contém três jogos, uma espécie de contos de fadas radicais. Para jovens ou adultos, para aqueles para quem a infância não é assunto arrumado, que procuram ainda descobrir-se algures, que conservam a dor de a ter deixado. Como a menina de um dos “jogos”, que se alimenta de um vestido de lágrimas. Marina mistura com sabedoria elementos de mitos de criação e lengalengas infantis, desejos e brincadeiras, medos e magias, confissões pessoais e delírios ternos de modo a moldar momentos (visuais, teatrais) intensos. Densas como florestas de encantar, onde as palavras primordiais (noite, dia, sangue e asas) são guias luminosos. Estas páginas são tapeçarias tecidas com minúcia, um artesanato de detalhes, colagens de tecidos e fotos, experiências com cores e um fundo onírico que nos atira de surpresa em surpresa. Mais do que para ler, eis um livro para experimentar. J.P.C. |