COMENTÁRIO
Vincent é o gato vadio que um Van Gogh desesperado com a sua falta de talento salva de uma rixa nas ruas de Arles. A pouco e pouco, Vincent ocupa a vida do pintor de um modo tal que lhe corrige as telas, mas sem por isso deixar de frequentar bordéis, cometer alguns roubos e outras tantas tropelias. Ao que parece, Smudja levou catorze anos a pintar estas páginas, que surgram salpicadas com o consenso crítico de obra-prima. Convenhamos que a paleta de cores é brilhante, com primores de composição, tudo servido pelo argumento surreal, fantasista e, por vezes, até cruel. O desenho possui a força do detalhe e capta as nuances estilísticas dos vários pintores, embora integrando-as no conjunto de tons “vangoghianos”. Contudo, nota-se demais o afã em forçar a entrada em cena dos quadros (e das figuras) célebres sacrificando a narrativa que evolui por saltos, desarticuladamente. Mais do que uma história, às tantas parece que tombámos num puzzle. Ainda assim, pode servir como base para discussões em torno do papel da arte ou da figura do artista atormentado, mas é, antes de mais, indicado para primeiros percursos nesta fatia em concreto da história da pintura. De qualquer modo, a vida do autor de «Os girassóis» é revisitada sem cerimónia e com humor, sendo que o espírito delirante das suas cores e do seu olhar assombra toda a obra. J.P.C. |