Leitores medianos 
 
 
 
 
   
   
   
       
 
COMENTÁRIO
 

Se a centralidade do homem bestial é sugerida, logo desde o início, pelo título, este elemento paratextual introduz, à partida, uma ambiguidade que nasce dos sentidos plurais do adjectivo aí presente. Vê-se, então, o leitor confrontado com a dúvida da verdadeira essência deste homem que tanto pode ser formidável ou “fora de série” (se procurarmos o significado desta palavra no registo linguístico particular da gíria), como assemelhar-se às bestas/animais, sendo, portanto, brutal, repugnante ou grosseiro (se atribuírmos a este vocábulo o seu sentido original). A descrição deste ser humano é construída a partir de um conjunto de expressões idiomáticas, de uso corrente, nas quais se coloca em evidência um animal ou um traço próprio que pode ser aproximado de alguns comportamentos do Homem. No final, o narrador que se espantou a ouvir esta história – «Alguém me contou e até a minha orelha se espantou!» –, depois de fazer sobressair, segundo o que soube pelos outros – veja-se a preocupação do narrador em sublinhar a existência de um relato de feição oral que precedeu o acto de contar por palavras escritas e por imagens, como sugerem as expressões «Alguém me contou…», «Outros contavam…» ou «Claro, todos diziam…» –, os aspectos físicos ou aqueles que são perceptíveis num contacto menos profundo, desvenda a verdadeira “bestialidade” do homem que prendeu a sua e a nossa atenção: «Agora que o conheci sei que, afinal, o homem era mesmo bestial. Não assustava ninguém: até tinha um coração de manteiga.» Livro em que o texto linguístico – muito expressivo e visivelmente económico – surge dominado pelo discurso visual / plástico, uma estratégia recorrente nos álbuns da colecção em que se insere a obra em análise, e em que a articulação das duas componentes é potencialmente rentabilizadora de sentidos metafóricos, O Homem Bestial parece deixar a ecoar a ideia de que este Homem pode ser, afinal, cada um de nós, cada uma das nossas imagens, das nossas faces, sempre – sob diferentes perspectivas… – bestiais, sempre naturalmente subjectivas aos olhos do Outro… | Sara Reis da Silva
   
 
   
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