Leitores medianos 
 
 
 
 
   
   
   
       
 
 
COMENTÁRIO
 

A partir de um expressivo jogo de contrastes, nomeadamente entre o planeta «fora da nossa galáxia» e o planeta Terra, entre a vida e a morte, entre a amizade ou o companheirismo e a solidão, por exemplo, a história vai crescendo em torno de um conflito, que possui tudo de humano, mas que é protagonizado por esse elefante especial e pelos seus amigos, seres marcados por uma forte componente maravilhosa que, num primeiro momento, se revelam desconhecedores do que é o sofrimento. Numa sequência posterior, o leitor vê-se confrontado com a angústia dos elefantezinhos perante a morte inesperada do seu planeta e perante essa terrível sensação de se estar «só no sozinho», quase sentindo, como eles, o coração «como um ouriço-cacheiro». Aliás, é visível, em alguns segmentos, a intenção do narrador em envolver e em criar uma certa proximidade ou intimidade com o narratário. Veja-se, por exemplo, o ponto de viragem na narrativa ou a primeira peripécia: «Um dia, porém, o elefantezinho cor de rosa, o nosso elefantezinho, sentiu uma esquisita sensação, quando viu que uma flor branca murchava, sob os seus olhos fixos de espanto. A flor ia morrer!». Neste livro, como em outros assinados pela escritora Luísa Dacosta, o discurso verbal reveste-se de um marcante carácter simbólico, como reflecte, por exemplo, a recorrência inicial das tonalidades verde e branca, bem como das formas circulares (das grandes rodas de trombas, por exemplo), elementos com um forte sentido valorativo, em oposição, por exemplo, às nuvens (que o elefantezinho desconhecia) a sugerir o mistério e a incerteza. Destaque-se, além disso, o recurso a expressões sensoriais, muitas vezes sinestésicos, e metafóricas, a servirem a recriação de um rico universo de emoções e de valores. A própria componente pictórica ou, em termos mais latos, a sua construção gráfica pauta-se pela originalidade, visível não só nas ilustrações, mas também na alternância do tamanho dos caracteres, estratégia através da qual se fazem sobressair certas ideias-chave. É importante salientar, neste contexto de envolvimento e de captação da atenção do leitor, o facto de às ilustrações ser impressa, frequentemente, uma ideia de dinamismo e de continuidade, sugerida pela ligação entre as ilustrações de páginas subsequentes. Pelo exposto, O elefante cor de rosa, uma obra profundamente convidativa e envolvente, é já, em nosso entender, um clássico de literatura infantil portuguesa. | Sara Reis da Silva
   
 
   
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