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COMENTÁRIO
 

Acontece aqui também, a todo o instante a valência simbólica de Breviário da Água, que se perscruta logo no próprio título e se comunica a diversos elementos que figuram - alguns deles reiteradamente (por exemplo, os olhos) - nos textos aí guardados. Na verdade, não é difícil encontrar aqui representações poéticas da água enquanto fonte de vida e regeneração, como sucede em «Magnólia»: «por secretos trilhos / as chuvas do Outono / alcançam o coração / da magnólia. / Depois de um repouso breve / e morno / navegam, navegam libertas / até florirem nos ramos.». Aqui e ali, destes concisos poemas de água, bem como de algumas definições incluídas no glossário emergem “outras literaturas”, sempre ancoradas num registo sedutor pela sua inovadora componente metafórica e pelo saudável tom humorístico. É o que sucede, por exemplo, em «Cantiga de amigo», em «Provérbios» e nos significados de «Deserto» - «Engano. Decerto já ouviste falar na história de um mouro transido que trocou toda a água por amor de uma princesa cristã…» – , de «Fonte» - «Local onde os trovadores medievais esperavam a amada.» – e de «Neve (III)» - «Pétalas de flor de amendoeira, como ensina uma lenda antiga». Quase no «fim desta viagem de palavras / com sílabas líquidas», o livro dá a conhecer, ainda, como sugerimos, um glossário muito especial e, tal como acontece no primeiro Breviário, somos convidados a (re)aprender os sentidos (re)inventados de muitos vocábulos que, de uma forma imediata ou, na quase maioria dos casos, simbólica, se relacionam com a água. A inclusão deste glossário representa, aliás, uma feliz estratégia de captação do leitor, na medida em que é a partir de um discurso bem disposto, simultaneamente descontraído e reflectido, que os poetas “brincam” com temáticas plenas de seriedade e submergem generosamente o destinatário extratextual num universo de “novos” significados concedidos a palavras já conhecidas, acordando, assim, a imaginação, o sonho e a capacidade de reacção ao diferente. Quem não se espantará, por exemplo, com os conceitos recriados de «Lágrima» e de «Suor (II)» enquanto «Diamante que o coração segrega» e «Pequenino rio que corre no rosto», respectivamente? Quem não sorrirá com as definições de «Inundação» - «A água também perde a paciência!» - e de «Poça!» - «Interjeição pluvial»? Aliás, a vertente lúdica, que pauta agradavelmente a construção deste glossário, espelha-se, de igual modo, por exemplo, nas diversas composições poéticas de carácter experimental, concreto ou visual presentes na obra, como acontece em «Chuva», em «Guarda-rios» ou em «Lampadário». Outro factor profundamente apelativo reside, quanto a nós, no tratamento delicado de temáticas como o amor, a liberdade e a crítica social, quer no corpo poético quer no próprio glossário que fecha este Breviário. É o que pressentimos, por exemplo, nos poemas «Olhos» e «Espelhos?» ou nas definições de «Chuva-de-estrelas» – «Antigo programa de televisão; o estúdio metia água a cada instante.» – e de «copo-de-água» – «Concentrado de tempestade, começa a formar-se no seio das famílias, logo após o matrimónio». |Sara Reis da Silva
   
 
   
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